terça-feira, 24 de março de 2009

Projeto 'Prospecção, Salvamento, Escavação e Educação Patrimonial na área polarizada pela Itacoatiara do Ingá.'

Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

Laboratório de arqueologia e Paleontologia – LABAP/UEPB

PROJETO DE PESQUISA

1- Título:

Prospecção, Salvamento, Escavação e Educação Patrimonial na área polarizada pela Itacoatiara do Ingá.

2- Introdução:


O conjunto de inscrição parietal do Ingá, ocupa uma área aproximada de 250m2, sobre uma massa gnáissica soerguida em meio ao curso do riacho Bacamarte, com painéis de inscrições gravados na superfície ígnea, ora do lajedo, ora em blocos soltos. O afloramento magmático se apresenta como obstáculo para o riacho, no entanto, oferece uma oportunidade de travessia em meio a uma abertura de aproximadamente 7 metros de largura, por onde o riacho segue emparedado. Este corredor pétreo, que se estende por 15 metros, é formado por paredes a prumo e inúmeros caldeirões que foram caprichosamente brocados pelo efeito turbilhonar da correnteza e o material dos enxurros. O que lhe dá um curioso aspecto de exíguo boqueirão ruiniforme.


Ao final do corredor, por onde o Bacamarte segue em tumultuosa corredeira, forma-se uma depressão pouco profunda de leito fluvial, em forma de enseada, abrandando o itinerário seguinte do riacho, que dali segue em regato, sereno e serpeante, por entre profunda ribanceira recortada no sedimento pelas periódicas e impetuosas, torrentes de inverno.


Durante o período invernoso a violência do riacho invade transbordante por parte do afloramento, buscando maior capacidade de fluência, e no verão este tributário é relativamente seco. Contudo, o interior dos caldeirões e o poção reservam águas estagnadas até próximo ao novo ciclo de chuvas (BRITO, 2008 p. 14-16).


Para muitos o sítio arqueológico Pedra do Ingá é apenas o grande paredão gnáissico em meio ao afloramento rochoso do Bacamarte, primoroso pela sua profusão, capricho e complexidade gráfica. Entretanto, toda a área pedregosa desta porção do riacho apresenta vestígios de ação parietal, cujo levantamento do historiador Vanderley de Brito aponta 20 painéis distintos:


O Painel Vertical do Ingá encontra-se num opulento paredão em eixo longitudinal, elevando-se proeminente em meio ao outeiro. É o mais famoso, vivaz e magnificente do conjunto parietal, cuja maior parte dos registros encontram-se profusos abaixo de uma linha filiforme horizontal de incisões capsulares. Ocupa uma área de 52m2 em parede a prumo direcionada para o noroeste, e suas inscrições apresentam-se esmeras, com diversos sinais ambíguos, compondo um complexo e surpreendente conjunto rupestre de sulcos largos, profundos e muito bem polidos. Sua imponência harmoniosa e expressiva é tamanha, que se o historiador grego Heródoto o tivesse visto, possivelmente, o incluiria entre Maravilhas do Mundo Antigo.


Abaixo deste, sobre o piso íngreme e liso do lajedo, encontra-se o Painel Inferior ocupando área quadrada de aproximadamente 2,5m2. Sua composição faz lembrar uma organização estelar voltada para o firmamento.


Logo acima do Painel Vertical, está o Painel Superior, decorando uma área de 3,7m2 no dorso convexo do monumento. Este, onde a pedra é revestida de resíduos orgânicos, apresenta poucos símbolos dispersos, em grandes proporções, e capsulares filiformes (BRITO, 2008 p.16-18).


Os registros gráficos destes três painéis foram executados em profundidade e se apresentam muito bem polidos no interior côncavo dos sulcos e, por exibir maior requinte técnico e estilístico, estão bem circunscritos e geralmente é objeto de segregação nos diversos trabalhos sobre a Pedra do Ingá. No entanto, nas adjacências deste conjunto principal, existem outras inscrições incônditas que são marginalizadas por não se apresentarem tão nítidas, conjuntas e bem elaboradas como as que decoram e emolduram o monumento protagonista. Estes, que são em número de dezessete, foram exaustivamente estudados pelo jovem pesquisador Thomas Bruno Oliveira, que as denominou de inscrições marginais (OLIVEIRA, 2006 p. 6-7).

As inscrições marginais se apresentam ora picotadas, ora polidas e também apenas raspadas. Estão incisas em pequenos painéis no piso lajedo, no interior côncavo de alguns caldeirões na parede norte do corredor, nas rochas que formam a parede sul do corredor, em pedras soltas no leito do riacho e em afloramentos pouco abaixo do conjunto rupestres que formam ilhas no Bacamarte. Não se sabe por que estas inscrições que circundam o conjunto principal do Ingá não se harmonizam na técnica nem na composição plástica, embora devam receber o mesmo interesse científico e serem avaliadas por exame somático.


Os estudos de importantes pesquisadores como a arqueóloga Gabriela Martin e o historiador Vanderley de Brito, sugerem que a Pedra do Ingá está filiada a uma cultura gráfica bem distinta e que os elementos para classificar esta cultura gráfica devem estar distribuídos numa área ecológica semelhante aquela verificada na região do riacho Bacamarte. Assim, nosso propósito é estudar uma área circundante da Pedra do Ingá, num perímetro de 180km2 , em busca de resgatar e analisar tais indicativos culturais capazes de definir a cultura das itacoatiaras familiarizadas com a célebre Pedra do Ingá.

3- Localização da área de estudo:


A partir das coordenadas geográficas: sob as coordenadas geográficas: Latitude 07o17’26” Sul; Longitude: 35036’31” Oeste, onde se situa o conjunto rochoso da Pedra do Ingá (FARIA, 1987 p.24), o campo de estudos abrangerá um círculo de 45km. Totalizando 180km2 de área. Englobando territórios dos municípios paraibanos de: Ingá, mogeiro, Riachão do Bacamarte, Itatuba, Fagundes, Queimadas, Caturité, Barra de Santana, Gado Bravo, Umbuzeiro, Natuba, Aroeiras, Salgado de São Félix, Itabaiana, Juarez Távora, Massaranduba, Campina Grande, Serra Redonda, Puxinanã, Lagoa Seca, Esperança, Montadas, Areial, Remígio, Alagoa Nova, São Sebastião de Lagoa de Roça, Alagoa Grande, Areia, Serraria, Arara, Pilões, Borborema, Pilõezinhos, Guarabira, Alagoinha, Araçagi, Pipirituba, Cuitegi, Mulungu, Cuité de Mamanguape, Mari, Sapé, Cruz do Espírito Santo, São Miguel de Taipu, Pilar, Juripiranga, Pedras de Fogo, Itabaiana, São José dos Ramos, Riachão do Poço, Gurinhém, Caldas Brandão e Sobrado.


Os municípios, segundo classificação do Atlas Escolar Paraíba, elaborado pela Fundação Casa de José Américo, abrange territórios das Mesorregiões Geográficas da Zona da Mata e Agreste da Paraíba (RODRIGUES, 2000, p. 13).


4- Objetivos:

Geral: Estudos de prospecções, salvamentos, escavações arqueológicas, educação patrimonial e medidas de contenção de destruição deste legado cultural compreendido na área de estudo.


Específicos: mapear as áreas detentoras de monumentos arqueológicos da área de estudo.

Realizar atividades de prospecção arqueológicas em sítios pré-históricos como forma de evidenciar estruturas e materiais arqueológicos existentes para análise laboratorial.


Desenvolver atividades de educação patrimonial nas escolas públicas e comunidades rurais da área de estudo, visando estabilizar o atual processo de destruição do patrimônio cultural primitivo.


Agir como órgão fiscalizador com relação ao cumprimento da legislação vigente no tocante a salvaguarda do patrimônio arqueológico.


Contribuir com atividades de salvamento arqueológico em construções e/ou atividades impactantes desenvolvidas na área em apreciação.


5- Justificativa:


Apesar do conjunto rupestre da Pedra do Ingá ser um dos mais famosos e pesquisados no país, até o presente não existe um diagnóstico oficial definitivo sobre este cultura. O historiador Vanderley de Brito, em longos anos de estudos no interior do estado da Paraíba, descobriu evidentes analogias em diversas gravuras rupestres com a Pedra do Ingá, demonstrando que esse célebre conjunto rupestre é um elemento das demais inscrições em pedra. Estando, portanto, em uma mesma filiação cultural.

Entretanto, também observou que as itacoatiaras apresentam brandas modificações gráficas, técnicas e seletivas de acordo com as unidades ecológicas, e essas adaptações podem indicar que estão relacionadas com padrões de subsistência. Portanto, um estudo da distribuição de diferentes tipos de sítios conforme zonas geográficas, pode constituir uma preciosa pista que deve ser examinada com muita cautela para uma classificação das itacoatiaras.

O pesquisador, considerou a Pedra do Ingá dentro de uma modalidade técnica que obedece uma seleção criteriosa de escolha de suporte rochoso e meio ecológico para as gravuras filiadas ao mesmo universo cultural da Pedra do Ingá. Para o estudioso, estes grupos pré-históricos que gravavam inscrições em pedras usavam recursos técnicos e operativos nas representações pictóricas que podem ser interpretados como evolução gráfica ou diferenciações étnicas e cronológicas. Na Paraíba, ainda segundo Vanderley de Brito, apresentam-se, de forma geral, três modalidades de variações técnicas para gravar suportes rochosos, para as quais definiu os termos denominativos de: “meia-cana”, “picoteamento” e “monocrômica”, que, via de regra, contemplam regiões geográficas e ecológicas específicas.


A Pedra do Ingá se enquadrou no estilo Meia-cana: “Esta técnica de gravura está muito bem representada nos painéis Vertical, Superior e Inferior da Pedra do Ingá. São sulcos profundos, atingindo até 8 mm, e largos: há registros de até 5cm. O interior côncavo é muito bem polido e boleado. Geralmente, as superfícies utilizadas para esta técnica são previamente polidas por meios naturais ou antrópicos.

Este tipo técnico apresenta-se na Paraíba, oportunamente, em regiões amenas como o brejo e o agreste oriental, e estão presentes às margens e leitos de rios e riachos, geralmente onde estes formam poços, caldeirões e corredeiras. Outra peculiaridade deste tipo de sítio é apresentar inúmeros outros painéis e sinais sob técnica tosca, distribuídos nas adjacências de um conjunto principal admirável e profuso. A pesquisadora Alice Aguiar também observou no sítio Boi Branco, em Pernambuco, esta peculiaridade.


Conjuntos de depressões perfeitamente capsulares e símbolos complexos são a principal temática deste modelo gráfico. Registram-se, sempre, lajes soltas coberta de sulcos desordenados. Imaginamos que se tratem, possivelmente, de mesas onde se afiava o artefato percutor” (BRITO, 2008 p. 76).

A arqueóloga Gabriela Martin da Fundação do Homem Americano – FUNDHAM, também defende a perspectiva de que a Pedra do Ingá que um levantamento dos sítios pré-históricos de itacoatiaras da Paraíba, circunvizinhas da Pedra do Ingá, se poderia falar de uma “sub-tradição Ingá” de gravuras rupestres, cujas características a priori seriam o posicionamento ao longo de cursos d’água, a forma curva e complexa dos grafismos, pontos ou pequenas formas circulares gravadas ordenadamente e que dão a impressão de linhas de contagens, denso preenchimento dos painéis, além da técnica de raspado e polido contínuo na elaboração dos grafismos. (MARTIN, 2005 P. 298).


Em virtude destes apontamentos, nossa pretensão seria um estudo num raio circular de 45km, tendo como epicentro a Itacoatiara do Ingá, para o estudo da cultura pré-histórica de gravuras rupestres no estilo Meia-cana. Todavia, o estudo não pretende se limitar apenas aos sítios de gravuras rupestres, mas a todos os testemunhos arqueológicos existente neste raio de atuação, uma vez que os povos das itacoatiaras também tinham seus aldeamentos e todos os demais fatores cotidianos de subsistência.


6- Metodologia:


A pesquisa deve enquadrar estudos de prospecções, salvamentos, ecavações arqueológicas, educação patrimonial e medidas de contenção de destruição deste legado cultural compreendido na área de estudo.

7- Referências bibliográficas:

BRITO, Vanderley de. A Pedra do Ingá: itacoatiaras na Paraíba. João Pessoa: JRC Editora. 2008.

___________. As inscrições da Pedra do Ingá. Revista do UNIPÊ, série: Ciências Humanas e Sociais. ano XI, no 1. João Pessoa: 2007.

FARIA, Francisco Carlos Pessoa. Os astrônomos pré-históricos do Ingá. São Paulo: Ibrasa. 1987.

MARTIN, Gabriela. Estudos para uma desmistificação dos petróglifos brasileiros: (I) A Pedra Lavrada de Ingá (Paraíba). Revista de História -USP, no 102- abr./jun. São Paulo: 1975.

____________. Fronteiras estilísticas e culturais na arte rupestre da área arqueológica do Seridó (RN, PB). Revista Clio Arqueológica, no16, v.1. Recife: UFPE. 2003.

____________. Pré-história do Nordeste do Brasil. 4a ed. Recife: Ed. Universitária/UFPE. 2005.

OLIVEIRA, Thomas Bruno. As inscrições marginais do Ingá. Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia, ano I, no 1. Campina Grande: 2006.

__________. Ocorrências de itacoatiaras na Paraíba. J. Pessoa: JRC Editora. 2007.

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