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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Jornal da Paraíba exibe matéria sobre destruição do patrimônio de CG


Destruição e reforma de prédios ameaçam patrimônio histórico*

Alberto Simplício

Conhecida por ter como característica a vocação para o progresso, em nome da modernidade, parte da história de Campina Grande, estampada em suas ruas, casarões e prédios antigos, está se perdendo com o tempo. As reformas empreendidas para dar espaço a construções modernas acontecem de maneira deliberada sem que haja um acompanhamento técnico que garanta a coleta de vestígios históricos, bastante comuns em escavações. Um prejuízo que, segundo a Sociedade Paraibana de Arqueologia (SPA), faz com que partes importantes da história da cidade deixem de ser revelados e se percam para sempre.

De acordo com o historiador Thomas Bruno Oliveira, um dos diretores da SPA, o tombamento do centro histórico de Campina Grande, feito em 2004 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), não tem garantido o que há de mais legítimo neste processo: a valorização das áreas demarcadas e a garantia de sua existência para posteridade. Um dos exemplos mais recentes dessa realidade, de acordo com ele, foi a introdução de dutos subterrâneos para telefonia e internet no centro da cidade, que perfurou áreas pertencentes ao patrimônio histórico da cidade.
Ele avalia que a importância da obra é inquestionável, mas não houve nenhum profissional monitorando as escavações. “Certamente havia uma infinidade de vestígios de nossos pretéritos habitantes, antigas fundações e estruturas, louças, objetos de metal e outros vestígios que poderiam nos dar pistas preciosíssimas sobre a história da cidade”, comenta.

Juvandi Santos é doutor em Arqueologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e vice-presidente da SPA. Ele diz que é revoltante a maneira como o patrimônio histórico de Campina Grande está sendo tratado. “Cotidianamente, flagramos derrubadas de casas para dar espaço a construções modernas ou até mesmo estacionamentos. Na rua Vila Nova da Rainha, por exemplo, praticamente não identificamos traços da nossa arquitetura antiga, apesar de ter sido ali que a cidade começou. Um dos últimos exemplos é o da casa onde funcionava o Sistema Nacional de Emprego (Sine), que conserva o estilo inglês”, cita. Durante visita da reportagem do JORNAL DA PARAÍBA ao local, verificou-se que a área está servindo como estacionamento e “dormitório” para mendigos, o que evidencia seu abandono.

O pesquisador também disse que há um acelerado processo de derrubada de vários “castelinhos” estilo inglês, localizados na região próxima ao Açude Velho. “Estamos protocolando uma ação no Ministério Público (MP) para impedir que o patrimônio histórico de Campina seja apagado”, explica. Ele diz ainda que na rua Irineu Jóffily, por exemplo, este ano, duas das poucas casas que conservavam traços de sua arquitetura antiga foram derrubadas e que, na Rua Getúlio Vargas, recentemente, houve a demolição da antiga fábrica de óleo Medeiros Cirne. Cita ainda que muitas lojas da Rua Maciel Pinheiro não estão respeitando as características do estilo francês art déco, característico das décadas de 1930 e 1940.

Resquícios de um passado de progresso

Próximo ao cartão-postal mais conhecido de Campina Grande, o Açude Velho, a chaminé preservada no Parque da Criança e a antiga chaminé próxima da Estação Velha, são os últimos remanescentes do antigo parque industrial da cidade. Até pouco tempo, existia uma outra construída no local onde funcionava a fábrica da Caranguejo, mas ela foi demolida para que lá sejam erguidos edifícios. As ruínas da antiga Sambra, símbolo dos tempos áureos do algodão em Campina Grande, referente à primeira metade do século passado, também já não existe. O prédio da antiga fábrica têxtil, localizada em frente da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro de Bodoncogó, é outro que está com os dias contados. Enquanto nada é feito, a estrutura antiga dá sinais de que vai ruir em breve.

Segundo Juvandi Santos, toda a área próxima ao Açude Velho abrigava diversas indústrias alimentadas, sobretudo, pela cultura algodoeira. “Precisamos preservar melhor nossa história, o progresso pode perfeitamente se aliar ao passado, um não é contrário ao outro”, salienta. Os armazéns da Estação Velha, que há algum tempo abrigaram restaurantes e lanchonetes, atualmente estão abandonados. Apenas um deles continua funcionando como um bar, os demais estão desmoronando e sendo tomados por usuários de drogas e moradores de rua. O antigo Cassino Eldorado, na Feira Central, e o antigo Cine Capitólio também simbolizam uma época de efervescência cultural movida pelo grande progresso econômico da primeira metade do século passado e hoje estão abandonados. “Não podemos ficar parados enquanto assistimos a essa destruição”, diz Juvandi. (AS)

Seplan deverá notificar proprietários de edifícios

Recentemente, uma reunião realizada entre o Ministério Público de Campina Grande, a Prefeitura Municipal, a Secretaria de Planejamento (Seplan) e o Iphaep, acertou um acordo para tentar frear a destruição do patrimônio histórico da cidade. De acordo com o arquiteto da Seplan, Alselmo Martins, será feita uma notificação junto a todos os proprietários de prédios históricos localizados no Centro comercial da cidade sobre as normas que eles devem seguir para não agredir os traços da arquitetura art déco, estilo que fez parte de um projeto de modernização da cidade, na década de 1930, durante a gestão do prefeito Vergniaud Wanderly.

“O Iphan vai realizar um levantamento de todos os prédios com valor histórico e emitir um normativo para orientar que tipo de mudanças podem ser feitas para garantir que o patrimônio histórico não seja destruído”, explicou.
Martins também informou que as notificações devem atingir também todas os proprietários de casarões e prédios históricos inseridos na área delimitada pelo Iphaep.

“A intenção é assegurar a conservação desses prédios”, afirmou. Ele disse ainda que a prefeitura também dispõe de projetos para reformar os antigos armazéns da Estação Velha, o Cassino Eldorado e o Cine Capitólio.

A delimitação do Iphaep é constituída por cinturão formado por ruas e praças inseridas na região central da cidade e reúne edificações em estilo art déco, inglês, neoclássico e vários monumentos que têm resistido bravamente ao tempo. Fazem parte do conjunto ruas como a Vila Nova da Rainha, região onde a cidade teria surgido, todo o largo da Catedral e algumas ruas. (AS)

*Matéria publicada na edição especial de domingo no Jornal da Paraíba em 10 de outubro de 2010. O título e os subtítulos da matéria, são links para a publicação online do referido jornal

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Destruição do Patrimônio Histórico de Campina

Thomas Bruno Oliveira*


Há muito que denunciamos a destruição do patrimônio histórico de Campina Grande. Produzi artigos, liguei para rádios, comuniquei amigos historiadores, fiz denuncia no IPHAEP, Ministério Público e até o momento não tenho visto nenhuma atitude que vise preservar o que resta dos últimos suspiros de nosso patrimônio histórico.

Figura 1-Fábrica Têxtil, totalmente sem telhado.



Desta forma, caminhei hoje (31 de agosto de 2010) pelo centro da cidade, não só na circunscrição do Centro Histórico de Campina Grande, delimitada tardiamente em junho de 2004, como também no entorno deste epicentro histórico, onde ainda estão vivas páginas da história da cidade, de seu desenvolvimento, de seu povo. Caminhei com o intuito de observar se mais algum monumento ou edificação estaria em processo de demolição, atitude que tem se asseverado nos últimos meses.

Figura 2- Vista do terreno onde havia o "Castelinho Inglês" na Rua Irineu Jóffily



Segui o percurso, a partir de Bodocongó, visualizando a antiga fábrica têxtil, defronte a Igreja em devoção a N.Sra. do Perpétuo Socorro, que segundo o Prof. Josemir Camilo “evidencia o trinômio fábrica-igreja-escola substituto de um antigo postal: casa grande-capela-engenho (ou fazenda) e senzala”. Pois bem, a vila operária, o arruado de casas de antigos trabalhadores da fábrica, foi demolida e parece-nos que este será o destino da fábrica, que sem teto, em pouco tempo estará em um estado ainda mais deplorável.
Figura 3-Antiga SAMIC, o que será construído no lugar?


Em seguida, me desloquei até o Centro Histórico, no centro da cidade. Já na Rua Irineu Jóffily, há dois prédios da esquina com a Rua Treze de Maio, um antigo prédio em estilo “Castelinho Inglês” foi demolido, caminhei por dentro do terreno e observei a voracidade das máquinas que deixaram suas marcas impressas naquele solo histórico. Defronte, do outro lado da rua, vi um antigo prédio eclético que ainda ostenta sua arquitetura original, apesar das adaptações feitas para o prédio servir como uma pequena galeria de lojas.

Seguí pela rua Irineu Jóffily e não pude caminhar pela Praça Cel. Antônio Pessoa por estar em processo de reforma, estando isolada com tapumes. Adentrei a rua que faz esquina com o antigo prédio em Art-dèco do Campinense Clube, que possui um letreiro antigo que está oculto por um painel em vidro azul, de mal gosto.

Caminhei pelas ruas João Tavares e Desembargador Trindade e vi o rastro de destruição, vários prédios em estilo “Castelinho Inglês” foram demolidos, várias casas próximas ao Baiuka Drinks já não mais existem, a antiga SAMIC (Serviço Assistencial Médico Infantil Campinense), foi demolida e seguindo com destino ao Açude Velho, ví de longe as três imponentes chaminés de seu entorno, a do Parque da Criança, antigo Curtume dos Mota (São José), a da SANBRA e a da Caranguejo e observei que esta última não estava com seu acabamento no topo, chegando perto, vi uma série de andaimes e de imediato me dirigi a empresa para obter informações, estaria sendo demolida?

Figura 4-O desmonte da Chaminé da Caranguejo

Na empresa, obtive a informação de que a Caranguejo será transferida para o Distrito Industrial da cidade, saindo daquele prédio histórico que já teria sido vendido a uma construtora, obtendo certamente um alto valor pela valorizada área em que está. No entanto, o prédio e a chaminé estão localizados no antigo parque industrial da cidade, as margens do Açude Velho, de onde bebia parte da água que precisara. A chaminé estava sendo destruída, ou melhor, está! Alguns fios de grossos tijolos manuais já foram extraídos e, em dias, uma das três únicas chaminés do entorno do Açude Velho não mais existirá. Este monumento não só reflete uma áurea época da cidade, como também embeleza e dá um charme ao Açude.

Figura 5-Detalhe do desmanche da chaminé em 31 de agosto de 2010.



Aquele marco geográfico pode ser destruído? Estas chaminés devem ser rapidamente tombadas, elas são testemunhos de nossa primeira etapa de industrialização! Saindo dali, ainda fui conferir os galpões Estação Velha, e, pasmem, tinha alguns garotos consumindo drogas... parte do telhado já caiu, está em ruínas.


Voltei para casa pensando: Que história vamos deixar para as futuras gerações? Ou diremos simplesmente que GRANDE foram as destruições?

*Historiador, Sócio da SPA, SBE e IHGC

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