quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Destruição do Patrimônio Histórico de Campina

Thomas Bruno Oliveira*


Há muito que denunciamos a destruição do patrimônio histórico de Campina Grande. Produzi artigos, liguei para rádios, comuniquei amigos historiadores, fiz denuncia no IPHAEP, Ministério Público e até o momento não tenho visto nenhuma atitude que vise preservar o que resta dos últimos suspiros de nosso patrimônio histórico.

Figura 1-Fábrica Têxtil, totalmente sem telhado.



Desta forma, caminhei hoje (31 de agosto de 2010) pelo centro da cidade, não só na circunscrição do Centro Histórico de Campina Grande, delimitada tardiamente em junho de 2004, como também no entorno deste epicentro histórico, onde ainda estão vivas páginas da história da cidade, de seu desenvolvimento, de seu povo. Caminhei com o intuito de observar se mais algum monumento ou edificação estaria em processo de demolição, atitude que tem se asseverado nos últimos meses.

Figura 2- Vista do terreno onde havia o "Castelinho Inglês" na Rua Irineu Jóffily



Segui o percurso, a partir de Bodocongó, visualizando a antiga fábrica têxtil, defronte a Igreja em devoção a N.Sra. do Perpétuo Socorro, que segundo o Prof. Josemir Camilo “evidencia o trinômio fábrica-igreja-escola substituto de um antigo postal: casa grande-capela-engenho (ou fazenda) e senzala”. Pois bem, a vila operária, o arruado de casas de antigos trabalhadores da fábrica, foi demolida e parece-nos que este será o destino da fábrica, que sem teto, em pouco tempo estará em um estado ainda mais deplorável.
Figura 3-Antiga SAMIC, o que será construído no lugar?


Em seguida, me desloquei até o Centro Histórico, no centro da cidade. Já na Rua Irineu Jóffily, há dois prédios da esquina com a Rua Treze de Maio, um antigo prédio em estilo “Castelinho Inglês” foi demolido, caminhei por dentro do terreno e observei a voracidade das máquinas que deixaram suas marcas impressas naquele solo histórico. Defronte, do outro lado da rua, vi um antigo prédio eclético que ainda ostenta sua arquitetura original, apesar das adaptações feitas para o prédio servir como uma pequena galeria de lojas.

Seguí pela rua Irineu Jóffily e não pude caminhar pela Praça Cel. Antônio Pessoa por estar em processo de reforma, estando isolada com tapumes. Adentrei a rua que faz esquina com o antigo prédio em Art-dèco do Campinense Clube, que possui um letreiro antigo que está oculto por um painel em vidro azul, de mal gosto.

Caminhei pelas ruas João Tavares e Desembargador Trindade e vi o rastro de destruição, vários prédios em estilo “Castelinho Inglês” foram demolidos, várias casas próximas ao Baiuka Drinks já não mais existem, a antiga SAMIC (Serviço Assistencial Médico Infantil Campinense), foi demolida e seguindo com destino ao Açude Velho, ví de longe as três imponentes chaminés de seu entorno, a do Parque da Criança, antigo Curtume dos Mota (São José), a da SANBRA e a da Caranguejo e observei que esta última não estava com seu acabamento no topo, chegando perto, vi uma série de andaimes e de imediato me dirigi a empresa para obter informações, estaria sendo demolida?

Figura 4-O desmonte da Chaminé da Caranguejo

Na empresa, obtive a informação de que a Caranguejo será transferida para o Distrito Industrial da cidade, saindo daquele prédio histórico que já teria sido vendido a uma construtora, obtendo certamente um alto valor pela valorizada área em que está. No entanto, o prédio e a chaminé estão localizados no antigo parque industrial da cidade, as margens do Açude Velho, de onde bebia parte da água que precisara. A chaminé estava sendo destruída, ou melhor, está! Alguns fios de grossos tijolos manuais já foram extraídos e, em dias, uma das três únicas chaminés do entorno do Açude Velho não mais existirá. Este monumento não só reflete uma áurea época da cidade, como também embeleza e dá um charme ao Açude.

Figura 5-Detalhe do desmanche da chaminé em 31 de agosto de 2010.



Aquele marco geográfico pode ser destruído? Estas chaminés devem ser rapidamente tombadas, elas são testemunhos de nossa primeira etapa de industrialização! Saindo dali, ainda fui conferir os galpões Estação Velha, e, pasmem, tinha alguns garotos consumindo drogas... parte do telhado já caiu, está em ruínas.


Voltei para casa pensando: Que história vamos deixar para as futuras gerações? Ou diremos simplesmente que GRANDE foram as destruições?

*Historiador, Sócio da SPA, SBE e IHGC

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